Como se desse pra dormir aqui.
Do meu lado está uma parede branca e sem graça; acima um teto de madeira
Meus brinquedos me ajudam a dormir quando estou em casa, mas eu não estou em casa.
É bem escuro por aqui e, por estar tão longe do que costuma me proteger, estou com medo.
Não é muito, mas é medo.
Um sótão arrumadinho… Devia ter se passado alguma história aqui… É agora que eu começo a imaginar.
Dessa vez eu esqueci meu caderno e meus lápis de cor; tenho um antidoto, um livro sem figuras e - acredite - sem história, e minha imaginação.
Não é por nada, mas o antidoto é a única coisa que está funcionando nos conformes.
Como eu disse, eu comecei a imaginar coisas absurdas, como reis nos tempos antigos, insetos que se tornam seres mágicos e até um possível dinossauro congelado no ártico.
Estou me divertindo, mesmo sozinho. Mesmo sem brinquedos, o sótão se tornou meu lugar especial. As ferramentas jogadas no chão ajudaram na construção do meu castelo com torres, ponte, fonte, fortes e até jacareís.
Ninguém mais pode entrar, porque ninguém é capaz de ver. E, se vissem, não acreditariam.
Mesmo gostando tanto do sonhar, estou de olhos abertos. Ainda.
Tem espinhos na minha cama e um monstro debaixo da minha cama!
Tic-tac, nada adianta.
Os barulhos que nunca ouvi, mas que sempre estiveram aqui.
Que saudade das historias
e do tempo que esses brinquedos ainda eram divertidos. Era bem mais fácil acreditar. E como eu digo, se é real, não me interessa.